terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Eu não sei nada, só sei que a vida nos prepara


O Portal Mundo do Marketing seleciona e internauta vota na melhor iniciativa. 
Critérios avaliados são inovação, resultados alcançados e repercussão entre leitores do portal

O ano de 2013 foi marcado por ações de Marketing que apostaram no conteúdo e em propostas inusitadas para conquistar a atenção dos consumidores e gerar compartilhamento nas redes sociais. 

Muitas marcas criaram web séries, vídeos de humor, ações de rua com toques de reality show e mini documentários, tudo para criar uma experiência de entretenimento com o público e fugir das tradicionais mensagens publicitárias.

Como em qualquer mercado o excesso acaba gerando a comoditização, boa parte destas iniciativas passou em branco. Mas existem também aquelas que romperam a barreira do comum e ganharam destaque entre o público e entre os profissionais do setor. Por isso, selecionamos as 10 melhores ações de Marketing no período.

Os critérios avaliados pelo Mundo do Marketing são inovação, resultados alcançados, audiência e repercussão entre os leitores do portal e nas redes sociais. E entre hoje, dia 9, e esta quinta-feira, dia 12, você poderá votar na melhor ação do ano. O resultado da votação será apresentado no dia 13. Vote aqui.

O ranking elaborado pelo portal traz as marcas Dove, O Boticário, Spoleto, Fiat, Itaú, Skol, Maurício de Souza Produções e Panini, Ford, Hotel Urbano e a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Conheça as melhores ações de Marketing de 2013 a seguir.

1| Itaú dá ingressos para o Rock in Rio
O Itaú levou um artista de rua para o Rio de Janeiro na semana do Rock in Rio. Quem passava pelo local e dava uma gorjeta para o músico recebia uma surpresa: a possibilidade de escolher um par de ingressos para qualquer um dos dias do festival. A ação tinha como mote o posicionamento do banco “Isso muda o mundo” e se transformou em vídeos para as redes sociais, mostrando a ação e depoimentos de quem foi contemplado. 


2| Chiquinho Scarpa enterra o seu carro
Quando Chiquinho Scarpa publicou em suas redes sociais que enterraria o seu automóvel Bentley avaliado em R$ 1,5 milhão, muitos suspeitaram que seria uma ação da própria marca ou alguma excentricidade do milionário. Mas no final, tudo não passou de uma ação da Associação Brasileira de Transplante de Orgãos com o Governo Federal para promover a campanha de doação de órgãos. Scarpa avisou em seu perfil no Facebook que a ideia era mostrar para as pessoas que algo muito valioso não tem qualquer serventia se estiver enterrado. “Eu não enterrei meu carro, mas todo mundo achou um absurdo quando eu disse que ia fazer isso. Absurdo é enterrar seus órgãos, que podem salvar muitas vidas. Nada é mais valioso. Seja um doador, avise sua família”, declarou.


3| Mônica Parade
A Maurício de Souza Produções criou diversas ações em comemoração aos 50 anos da Turma da Mônica, mas a Mônica Parade, organizada em parceria com a Panini, se tornou um hit pelas ruas de São Paulo e nas redes sociais. Na ação, 50 esculturas da personagem foram espalhadas por pontos da cidade, que ganharam uma visibilidade ainda maior na web com as inúmeras fotos postadas pelos usuários ao lado das peças. O sucesso foi tão grande que 30 das esculturas vão a leilão e as restantes participarão de um tour por outras capitais. No decorrer da exposição, a Mônica Parade também ganhou destaque nas páginas policiais, pois uma das imagens da personagem foi roubada e recuperada em seguida.


4| Skol lança garrafas que viram objetos de decoração
A Skol criou uma linha de garrafas de alumínio que serviam como peças de decoração. Com cinco estampas diferentes, a edição limitada tem venda exclusiva pela loja virtual da marca e incentiva a reutilização da embalagem, evitando o desperdício, além de criar objetos que remetem à marca e criam maior relacionamento com seus consumidores. Os conjuntos trazem peças que permitem ao consumidor montar abajour, galheteiro, relógio, vaso de planta e castiçal.


5|Fiat Vem pra Rua
A Fiat criou a música Vem pra Rua e um vídeoclipe estrelado pelo rapper Falcão para a Copa das Confederações Fifa 2013. Mas o tema da canção acabou se associando indiretamente aos protestos promovidos por estudantes e partidos políticos contra o aumento das passagens de ônibus. O que começou com passeatas isoladas em São Paulo e no Rio de Janeiro acabou se transformando em um dos maiores movimentos sociais dos últimos tempos no Brasil, gerando mobilização e protestos em todo o país. Com isso, o tema criado pela montadora virou hino dos manifestantes, embora ela não tenha se posicionado a esse respeito.


6| Ford cria Fusion GP
A Ford produziu uma web série Fusion Grand Prix para promover o Novo Ford Fusion e reuniu dois dos maiores rivais da história da Fórmula 1: Nelson Piquet e Nigel Mansell. Em quatro episódios de produção cinematográfica, a marca mostrou o reencontro entre os pilotos e uma última disputa entre eles dentro de um Ford Fusion. O conteúdo foi lançado no YouTube e também exibido em mais de 80 salas de cinema nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Florianópolis, Brasília, Curitiba e Porto Alegre.


7| Dove Retratos da Real Beleza
A Dove usou um artista forense para criar um vídeo reforçando o conceito da “verdadeira beleza”. Na produção, o ex-funcionário do FBI era convidado a fazer retratos falados de algumas mulheres. Em um primeiro momento, o desenhista se baseava na descrição feita pela própria mulher e depois fazia um segundo desenho, a partir das orientações dadas por outra pessoa, que tinha acabado de conhecê-la. A diferença entre os desenhos enfatiza o quanto o público feminino costuma ser crítico em relação a si mesmo e se desvalorizar.


8| Spoleto no Dia Internacional da Mulher
No Dia Internacional da Mulher, o Spoleto promoveu a autoestima feminina com uma iniciativa promocional na sua unidade Ipanema, no Rio de Janeiro. A loja deu as refeições de graça durante todo o dia para as mulheres que se declaravam bonitas em frente a um espelho. Cerca de 500 clientes participaram e a promoção “Mulher bonita não paga” foi transformada em um filme com o conceito “A beleza está dentro de você”.


9| Hotel Urbano coloca poltrona de avião em ponto de ônibus
O Hotel Urbano montou um ponto de ônibus nas ruas do Rio de Janeiro com uma poltrona de avião. Quem sentou no assento e seguiu as orientações da “locutora do aeroporto” de afivelar o cinto de segurança e aguardar alguns instantes foi surpreendido com um pacote de viagem com direito a acompanhante para Cancun, Paris, Milão ou Nova York. Com o mote "Viajar é Possível", a ação foi desenvolvida para reforçar o foco da marca no relacionamento e satisfação dos seus consumidores.


10 | O Boticário promove baile de debutantes para jovens do Morro da Providência
O Boticário patrocinou o baile de debutantes para jovens do Morro da Providencia, no Rio de Janeiro, uma das regiões que foi pacificada com a criação das UPPs. Ao todo, 17 meninas foram contempladas para a festa que aconteceu no Museu Histórico Nacional. As aniversariantes receberam cuidados de beleza fornecidos pela marca, além de um kit com presentes das linhas de perfumaria e maquiagem. A empresa disponibilizou ainda um camarim durante o baile para as convidadas se retocarem e as filmagens da festa se tornaram parte do documentário “Beleza que transforma”.

Participe da votação para escolher a melhor ação de Marketing de 2013 aqui.

Fonte: Mundo do Marketing



oPesquisa da Aspect mostra que 38% das pessoas preferem presentear com dinheiro para não utilizar os serviços de atendimento ao cliente durante o período de Natal
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Para 74% dos consumidores, o final de ano é o pior período para utilizar os serviços de atendimento ao cliente (SACs), enquanto 91% acreditam que o departamento deveria ser melhor preparado para a época de Natal e réveillon. Os números são de uma pesquisa da Aspect. Quanto aos canais de atendimento, 52% consideram os chats e e-mail mais eficazes durante o ano e outros 48% preferem o telefone. Já no final do ano, a porcentagem dos que preferem os chats e e-mails sobe para 67% enquanto a dos que acham o telefone mais eficiente cai para 33%. O levantamento apontou ainda que 38% das pessoas preferem comprar com dinheiro para evitar aborrecimentos com as plataformas de pagamento.



Empresas de pesquisa especializadas em detectar hábitos de consumidores vão mudar o modelo usado para classificar os domicílios que compõem suas bases de dados e ele mostra que a camada mais pobre da população é maior do que imaginavam. Formada pelas classes D e E, essa parcela equivale a 37,3% dos domicílios no país e não 18,2%, segundo a metodologia atual.

Ao todo, 180 companhias reunidas na Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) deverão aposentar o atual Critério Brasil e passar a usar um modelo mais amplo, que considera, além de posse de bens, acesso a rede de água, esgoto e rua pavimentada.

A partir de janeiro de 2015, as pesquisas já poderão ser divulgadas de acordo com o novo modelo. Ele foi desenvolvido pelos professores especializados em marketing Wagner A. Kamakura, da Rice University, e José Afonso Mazzon, da FEA/USP. Os professores dividem a população em sete estratos (ou classes) socioeconômicos.


Na parte mais alta da pirâmide (classe A), que abriga as famílias mais abastadas, a rede de esgoto está disponível para 80,2%. Na base, ocupado pela classe E, o esgoto tratado serve apenas a 9,5% dos lares. Considerando-se todo o país, nas contas de Kamakura e Mazzin, apenas 52,4% dos lares têm acesso a uma rede pública de esgoto.

A nova metodologia também considera aspectos geodemográficos: um domicílio com dois adultos e três crianças em um bairro nobre de Brasília guarda diferenças importantes em relação a um localizado em Jequié, na Bahia.

"O critério hoje é bom, mas vai ser melhorado", diz Marcelo Alves, chefe da área de estatísticas de pesquisas de varejo e consumo da Nielsen, referindo-se ao Critério Brasil, atual modelo adotado por empresas de pesquisas no país.

A amostra atual da Nielsen, visitada quinzenalmente por seu pessoal de campo, contém 8,7 mil domicílios. E no início de 2014, como todos os anos, a empresa visitará 50 mil famílias para fazer a atualização da amostra. Com a nova metodologia em mãos, Alves vai poder reclassificar sua base de dados.

Assim, quando a Nielsen e demais associadas da Abep iniciarem em janeiro de 2015 suas pesquisas, sob o novo modelo, conseguirão fazer comparações em relação a 2014. As comparações com 2013 e anos anteriores não serão automáticas, já que a base estará classificada de forma diferente. Mas se algum cliente pedir uma série histórica maior, há fórmulas que permitem esse tipo de comparação.

No Ibope, a nova metodologia será usada nas pesquisas de hábitos de consumo e eleitorais, a partir de janeiro de 2015.

A nova divisão da população ainda não está pronta -- um grupo de estudos da Abep está finalizando os ajustes; mas o presidente da Abep, Luis Pilli, avalia que a parte inferior da pirâmide populacional - os estratos 5, 6 e 7 ou o que se convencionou chamar de classes C2, D e E - "será maior do que é hoje". Considerando-se essas três classes, a parte mais "pobre" do país equivaleria a quase 58% dos domicílios. Pelo Critério Brasil, essa fatia seria de 41,4% e pelo modelo usado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), do governo federal, de 51%.

Pili observa que "estamos vendo uma diminuição das classes de menor renda, talvez em velocidade inferior do que gostaríamos. Mas [na nova classificação] vamos ter mais gente nesse estrato inferior." Mazzon, da FEA/USP, observa que o tamanho da população pobre no país é maior do que se imagina e a "nova classe média não é tão grande assim, como se costuma divulgar."

Com a adoção da nova metodologia ao longo do próximo ano, a partir de janeiro de 2015 as empresas de pesquisa podem começar a divulgar dados com base no novo modelo. A Abep trabalhava com a ideia de que seria possível estrear a nova classificação em janeiro de 2014, mas nem todas as empresas conseguiriam fazer a mudança ao mesmo tempo. Optou-se, então, por uma transição mais lenta.

Kamakura e Mazzon, conforme publicou o Valor em fevereiro de 2012, elaboraram uma nova divisão socioeconômica da população brasileira a partir dos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, de 2009, do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (POF/IBGE). E seu plano era oferecer o novo modelo às empresas de pesquisa, sem custo.

Os professores usaram 104 mil domicílios no modelo, que considera 35 indicadores - desde o número de aparelhos de TV em cores, computadores pessoais e automóveis, até nível de educação e ocupação do chefe da casa, passando pelo número de empregados domésticos. Indicadores como acesso a esgoto, água tratada e ruas pavimentadas também são considerados.

O Critério Brasil, usado atualmente pelas associadas da Abep, se baseia em levantamento feito pelo Ibope em 9 regiões metropolitanas (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Distrito Federal). Essa amostra, de 11 mil domicílios, servia de base para medir audiência de canais de TV.

Na opinião de Kamakura e Mazzon - que publicaram o livro "Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil" (Editora Blucher), em agosto - o Critério Brasil servia para época anterior a 2003, quando teve início a migração de milhões de brasileiros da base da pirâmide para o meio dela.

Fabricantes de bens de consumo final planejavam a produção, vendas e marketing, tendo em vista o consumidor de maior renda - e a classe média acabava comprando porque aspirava as mesmas coisas que a classe alta podia comprar. Com a expansão da classe média, uma nova massa de consumidores ganhou importância e precisa ser mapeada de forma mais detalhada, observa Mazzon.

Os dois professores também enviaram seu trabalho à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no ano passado, quando o governo Dilma Rousseff discutia com economistas e sociólogos como definir o real tamanho da classe média no país. A metodologia dos professores, embora de fácil aplicação, foi rejeitada pela SAE, que preferiu adotar um único critério - o da renda - para dividir a população.

Um grupo de estudo da Abep, formado por represetantes de Ibope, Nielsen, Data Folha e Ipsos, está definindo o que os técnicos chamam de "ponto de corte" para determinar em qual faixa socioeconômica os domicílios se enquadram. As discussões devem terminar entre janeiro e fevereiro.

O trabalho de Kamakura e Mazzon, publicado no International Journal of Research in Marketing no ano passado (IJRM), foi escolhido o melhor estudo sobre marketing em países emergentes de 2012 pelo Marketing Science Institute (MSI), que recebeu 104 artigos sobre o tema.

Fonte: Jornal Valor Econômico  



Os deputados representam o povo e têm como função primordial elaborar leis. A função abriga os mais jovens, podendo assumir o mandato cidadãos a partir de 21 anos. Já os senadores, cujo nome deriva do latim senex (velho), tidos como "a voz da experiência", só podem chegar ao Senado após os 35 anos, cumprindo a missão de representar os Estados e revisar os atos da Câmara, embora conservem também a prerrogativa de fazer leis. É o que está na Constituição. Mas as clássicas tarefas das chamadas Câmaras Baixa e Alta passam por interessante metamorfose.

O Senado está, a cada nova legislatura, mais renovado. Expande-se o número de senadores de menos idade, que se somam aos cerca de 20 suplentes que ocupam o lugar de titulares num colegiado de 81 parlamentares. Já a média de idade dos 513 deputados eleitos no último pleito é de 51 anos, a mesma verificada em 2006, tendo a maioria entre 45 e 59 anos. Constata-se, ainda, aumento do número de casados, hoje 384, ante 376 na legislatura anterior. A Casa dos deputados, portanto, exibe mais rebocos. Não é mais tão nova. A mudança mais significativa, porém, refere-se à morfologia da representação dos congressistas em face da intensa organicidade por que passa a sociedade brasileira.

Vale observar inicialmente o princípio básico da Carta Magna, cujo § único do artigo 1.º reza: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos dessa Constituição". O poder dos governantes numa democracia é dado pelo povo e por ele pode ser retirado. E o que é o povo? É a pessoa comum, o sujeito pleno de direitos ou, na expressão de Bobbio, "o conjunto de cidadãos que mantém vínculos políticos e jurídicos com o Estado". Em 1846 o francês Jules Michelet, em seu clássico O Povo, dizia que ele é o herói, por "criar, com seu trabalho, a riqueza da Nação e exercer sobre a ordem estabelecida uma pressão salutar; são os simples, aqueles que dividem pouco o seu pensamento, pois, não sendo dotados dos mecanismos de análise e abstração, veem as coisas de forma una, inteira, concreta, tal como a vida lhes apresenta". As disciplinas das ciências humanas, a partir da sociologia e da política, contêm vasto painel sobre as significações do termo, sendo referenciais as que estabelecem conexão entre povo e massas.

Ortega y Gasset explica que a sociedade é sempre uma unidade dinâmica de dois conjuntos: minorias e massas, sendo estas constituídas por pessoas não especialmente qualificadas. O que não significa que as massas devam ser entendidas apenas como "massas operárias", como é costume ler. Daí a assertiva acentuada do filósofo de que a massa é "o homem médio", um tipo genérico, não diferenciado de outros. A observação faz-se necessária para caracterizar o objeto da representação dos deputados. Seu foco é o cidadão, esteja ele em qualquer das bandas classificadas por John Stuart Mill: a dos passivos (dóceis, indiferentes, manipuláveis) ou a dos ativos (educados, conscientes, participativos).

A mudança na forma de representação tem que ver com a passagem de uma sociedade de massas para uma sociedade assentada em grupamentos, núcleos, setores, categorias. Se a civilização do século 19 produziu o "homem-massa", como apregoava Gasset, é razoável apontar neste segundo decênio do século 21 a emergência do "homem-cidadão", ator central nos novos circuitos de representação (associações, federações, sindicatos, movimentos, etc.) que chegam a desenvolver uma democracia supletiva em complemento às tarefas das instituições tradicionais da política.

O espectro parlamentar deixa transparecer a nova realidade. Na Câmara tornou-se rotina classificar as bancadas setoriais, como as dos empresários, dos trabalhadores, dos ruralistas, evangélica, entre outras. A contabilidade de organizações que acompanham as atividades congressuais mostra que a bancada de empresários é formada por 273 deputados; a ruralista abriga 220; a sindical de trabalhadores, 75; a evangélica, 63 deputados. E assim por diante. As diferenças numéricas entre bancadas tendem a ser mais estreitas. No Senado, apesar de menos explícita que na Câmara, a divisão também existe.

Ora, a repartição dos conjuntos da representação por setores ou grupos escancara a crescente organicidade social no País, decorrência da conquista de direitos, principalmente pós-Constituição de 1988; da elevação dos padrões educacionais; da ascensão social e econômica de milhões de brasileiros; e da abertura das redomas dos Poderes, com maior acesso das pessoas aos canais do Executivo, Legislativo e Judiciário. Além disso, a falta de respostas das instituições políticas às demandas sociais tem colaborado para a expansão de novos núcleos de poder (as formas associativas). Dessa moldura transparece a hipótese de que a democracia no Brasil recebe o oxigênio das esferas organizadas da sociedade, deixando distante o sonho de políticos de manipular os eleitores. (Na imagem de Stuart Mill, os governantes sonham em converter súditos em cordeirinhos dedicados a pastar capim e a não reclamar, nem quando o capim é escasso.)

O povo não é uma ficção. Faz-se presente na entidade que acolhe a categoria profissional a que pertence ou no movimento que atua como aríete para romper círculos ainda fechados dos vãos do poder. Pouco a pouco começa a entender que sua representação compõe também a elite política, fugindo da firula que alguns procuram engendrar quando execram as elites, pregando a velha luta de classes, pobre contra ricos. A lição do famoso sociólogo norte-americano Wright Mills é clara: "A elite são os que estão no topo das principais hierarquias". Nesse sentido, a morfologia representativa das Casas congressuais ganha as tintas da pluralidade. O Brasil tem avançado, sim, no campo da representação.

Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP é consultor 
político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato




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